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Melanina e Sobrevivência: A Resiliência dos Sapos na Zona de Exclusão de Chernobyl

  • Foto do escritor: Bioconservation
    Bioconservation
  • 17 de dez. de 2024
  • 2 min de leitura

O desastre nuclear de Chernobyl, ocorrido em 1986 na antiga União Soviética (atual Ucrânia), é considerado um dos piores da história. A explosão do reator 4 liberou uma quantidade significativa de materiais radioativos, tornando o local inóspito para humanos e alterando radicalmente o ecossistema. Elementos como césio-137 e estrôncio-90 contaminaram o solo e a água, emitindo radiação ionizante que afeta o DNA e o metabolismo celular de organismos vivos. Apesar disso, algumas espécies surpreenderam os cientistas ao demonstrar capacidade de adaptação, como a perereca-da-árvore oriental (Hyla orientalis).



Antes do acidente, esses anfíbios exibiam uma coloração verde, característica das populações de áreas não contaminadas. No entanto, mais de 30 anos após o desastre, muitos indivíduos na Zona de Exclusão apresentam uma coloração de pele significativamente mais escura, tendendo ao preto. Essa mudança não foi aleatória ou estética, mas uma adaptação que permite maior proteção contra os efeitos da radiação ionizante.

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Crédito da imagem: P. Burraco e G. Orizaola, Evolutionary Applications 2022 (CC BY 4.0)


O pigmento responsável por essa transformação é a melanina, uma substância que protege contra diversas formas de radiação, incluindo a ionizante. Nas pererecas de Chernobyl, a melanina funciona como um "escudo químico", neutralizando radicais livres e reduzindo os danos ao DNA. Isso aumenta a sobrevivência e a reprodução de indivíduos mais escuros, levando à perpetuação dessa característica nas gerações seguintes.


Pesquisadores começaram a estudar essas pererecas mais intensamente em 2016, quando identificaram exemplares de H. orientalis com coloração escura em lagos dentro e fora da Zona de Exclusão. Após três anos de análise, mais de 200 indivíduos foram avaliados, e os resultados confirmaram que a coloração mais escura é predominante nas áreas mais próximas à explosão, onde os níveis de radiação eram mais altos.


Essa adaptação é vista como um exemplo de evolução rápida. Indivíduos com menos melanina, portanto mais vulneráveis aos efeitos da radiação, tiveram menor chance de sobreviver e se reproduzir, enquanto os de pele mais escura prosperaram. Além da coloração, é provável que outras mudanças fisiológicas e comportamentais também tenham ocorrido para ajudar esses anfíbios a se adaptarem ao ambiente hostil de Chernobyl.


Embora a Zona de Exclusão continue inabitável para humanos e a previsão de segurança total na área seja de milênios, a natureza encontrou formas de se adaptar. A presença das pererecas e outras espécies no local demonstra a resiliência da vida selvagem diante de condições extremas. Pesquisas futuras poderão esclarecer os mecanismos genéticos que possibilitaram essa transformação nas pererecas e explorar os impactos a longo prazo da radiação sobre os ecossistemas da região.


Este fenômeno de adaptação destaca a complexidade da evolução e a importância da

biodiversidade na manutenção dos ecossistemas, mesmo em cenários de extrema

adversidade. A capacidade das pererecas de Chernobyl de se ajustarem às condições extremas do ambiente radioativo é uma evidência impressionante de como a vida se transforma para sobreviver.


Texto: Douglas Siqueira. Equipe Bioconservation.


Referência bibliográfica:

Burraco, P., & Orizaola, G. (2022). Ionizing radiation and melanism in Chornobyl tree frogs. Evolutionary Applications, 15, 1469–1479. https://doi.org/10.1111/eva.13476

 
 
 

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